domingo, 18 de outubro de 2009

ARTIGOS DE OPINIÃO


No tempo, em que os animais falavam...

A aldeia espreguiça-se pela planície alentejana. Os seus olhos nunca se cansam de olhar aquele quadro que molda todos os seus sentidos! E quando as primeiras chuvas trazidas pelo São Mateus, molham a terra árida, o cheiro endoideci toda a sua saudade que traz no peito e, á memória vem too um passado que de tão distante lhe dói no mais fundo da sua alma... Sim porque os animais também tem alma, ás vezes bem maior que dos homens.
Farrusco, cão sem raça nem brasão; aqui nasceu e viveu. Nunca conheceu outras terras, outras gentes; aqui começa e acaba o seu mundo. Sente nostalgia, porque embora velho, ainda não perdeu a sua memória: da família, dos amigos e sobretudo dos aromas que fazem do sentido dos olfacto um dos mais apurados.
Este fim de Verão trás consigo um arraial politiqueiro: eleições para eleger o «Presidente da Junta», cá do burgo! Esta coisa da política deixa sempre um odor que lhe provoca náuseas. Porém, sabe que é um dever, um direito que os humanos não podem deixar de exercer, garantido assim a sua modéstia participação na construção de uma sociedade mais justa, e fazendo da Democracia o único regime capaz de alimentar com sonho da felicidade.
Foi sempre um cão de rua, pobre que pouco ou nada tem, a não ser a sua dignidade de cão fiel aos seus, ideias que lhe tem orientado o seu percurso de honestidade e verticalidade, salvo seja o modo a que o Criador o condenou: andar sobre quatro patas.
Quando os humanos entram em campanha eleitoral, Farrusco fica envergonhado de ver tanta maledicência e uiva de raiva, sentido que a dignidade dos donos e seus semelhantes, fica pelo chão da amargura.
Não se olha a meios para atingir os fins e chega-se ao descaramento de alguns ditos políticos seno autênticos lobos, se travestem de inocentes cordeirinhos...
Rezam as crónias mundanas que a relação entre o cão e gato, nunca foi das melhores e, entre os humanos no seu jeito proverbial é vulgar ouvir - «São como cão e gato...». Porém Farrusco contrariando tudo e todos, estabeleceu ao longo da sua vida, uma relação de cumplicidade com o gato Tareco, seu parceiro em todas as histórias de vida ocorridas aqui por terras do imenso Alentejo.
Todos os quintais, telhados, baldios, ribeiros e montes da aldeias estão desenhados palmo a palmo, no corpo e na alma. Sabem como nenhum outro animal, os segredos mais íntimos dos seus «donos».
Farrusco e Tareco em praça pública, botam conversa enquanto o sol já ensonado, vai vestindo o pijama lá no crepúsculo do dia...
- Farrusco, olha bem para o estado da aldeia?
- Mas passa-se alguma coisa especial?
- Não reparas-te nos placares das eleições?
- Sim, mas não ligo muito. Afinal todos prometem o mesmo. Parvos são eles se não souberem distinguir o trigo do joio...
- Alguns engravataram-se; ficaram janotas como eu. Mas não basta parecer, é preciso ser!!!
- Pois, também me parece que há ali muito cinismo. Mas o povo não é parvo, como te disse!
- Olha Farrusco, sempre te digo que os humanos são uma bestas.
- Então porquê...?
- Numa aldeia tão pequena, dividem-se para reinar. No meu juízo de gato seria mais acertado unir para fortificar. Não te parece?
- Os humanos tem uma coisa que os animais não têm: vaidade e inveja!!!
- Logo...?
- Não teriam a humildade democrática de juntar o útil ao agradável: competência e honestidade.
- Estou a ver...! olha o melhor é dar corda aos sapatos, salva seja, ás patinhas e ir procurar guardia. Mas antes da abalada, ainda te faço este repto: uma aposta para o vencedor?
- Não, meu amigo. Nunca aposto e prognósticos, só no fim do jogo. Adeus até amanhã...
- Até amanhã e bons ossos.
E desapareceram nas sombras da noite que veio depressa sem que Farrusco e Tareco tenham dado por isso; sopra uma brisa que arrasta folhas secas pelo chão; lá no imenso firmamento as estrelas cintilam e se calhar até sorriem quando irrompem uivos de cão misturados com lamúrias de gato... podem crer que assusta: parecem crianças em choro de aflição. Amanhã o sol vai de novo brilhar, e o resto será aquilo que o Povo quiser. Ninguém pode adivinhar.

Por: Joaquim Coimbra Rodrigo




Até à pouco tempo atrás acreditava-se que os recém-nascidos não podiam ver nada. Atualmente, com o advento de novos métodos de investigação, sabemos que eles podem ver perfeitamente, mas com pequenas limitações que iremos explicar a seguir.

(Continuação)

O desenvolvimento da estereopsia (percepção espacial) produz-se de modo semelhante. Nos últimos anos foram feitos diversos estudos para analisar e pesquisar a capacidade visual dos bebés. Por exemplo, colocaram-se sobre uma mesa de vidro alguns bebés que já gatinhavam. A mesa estava pintada com um desenho de azulejos brancos e pretos que continuavam no piso. O vidro cobria não só a mesa, mas também a superfície pintada da mesma maneira (mesa e piso). Quando um dos bebés gatinhou sobre o vidro até a borda da mesa, assustou-se diante do suposto "abismo". Esta "dica" foi possível graças a percepção de profundidade (estereopsia), parte integrante do que chamamos Visão Binocular que começa a formar-se na idade de quatro meses (no caso da estereopsia).
Por volta desta mesma idade, a criança, ao descobrir o mundo, começa a testar a interação entre mãos e olhos. Leva algumas semanas olhando os dedos com certa curiosidade. Estende a mão em direção a algum brinquedo ou objeto de interesse, tenta medir a distância entre a mão e o objeto, alternando o olhar entre este e aquela, e vai repetindo o gesto e tateando até tocar o brinquedo.
Um recém-nascido não distingue as cores. Primeiro parecem sombras mais ou menos escuras, já que os cones de sua retina ainda devem crescer. Paulatinamente, vai reconhecendo primeiro o vermelho, depois o azul, seguido pelo verde e, finalmente, o amarelo. Já percebe matizes com alguns meses de idade e, aos dois anos, tem o aparelho visual plenamente desenvolvido. Crianças de poucos meses submetidas a uma experiência demonstraram mais interesse pelas cores vermelha e azul. Também preferem as cores puras às que se apresentam misturadas.
A importância das impressões ópticas para o recém-nascido foi demonstrada pelo fato de os bebés que são carregados nos braços ou no colo durante muito tempo apresentarem uma atividade visual muito mais alerta que outros que permanecem mais tempo deitadas. Espero ter demonstrado o quanto é importante à estimulação visual de nossos bebés desde o nascimento.

Dr Carlos Bilro / Grupo Optivisão