quinta-feira, 29 de abril de 2010

DESTAQUES

Encontros no Alto da Praça
A elevação a cidade não é um ponto de chegada mas sim um ponto de partida

Jerónimo João Pereira Cavaco, 37 anos, natural de Borba, reside actualmente em Lisboa para onde se mudou há duas décadas com o objectivo de completar os seus estudos. Apesar deste pormenor, este jovem jurista nunca se separou das suas raízes, continuando a participar activamente no quotidiano borbense. O facto de nas últimas autárquicas ter aceite ser o cabeça de lista pelo PS à Assembleia Municipal, órgão que bem conhecia mercê da presença nos dois mandatos anteriores como deputado, é o ponto mais relevante dessa sua ligação ao concelho. Numa altura em que se cumpre mais um aniversário sobre o fim do regime ditatorial herdado de António de Oliveira Salazar, julguei ser pertinente saber a opinião de um então recém nascido sobre a “liberdade” conquistada nesse dia.



Por esta altura, comemora-se o 36º aniversário sobre o “Dia da Liberdade”. Como é que um recém nascido, à altura, olha para esta realidade?
Falar do 25 de Abril e daquilo que significa é sempre complicado, pois tenho uma visão um pouco diferente deste dia, ou seja, normalmente não me identifico com os discursos que os “políticos” fazem neste dia em que se lamentam do estado na nação, dos problemas que vivemos, que deveríamos ter feito aquilo, não ter tomado esta decisão, etc… um muro de lamentações que entendo não devem ser feitas neste dia.
Neste dia festejamos a alegria imensa de um povo que gritou chega de opressão, que gritou chega de repressão, que gritou chega de perseguição, que gritou chega de censura, enfim exclamou Liberdade!
A educação que recebi, em particular do meu Pai, ajudou-me a entender melhor o que se passava nos anos subsequentes à Revolução de Abril. Ajudou-me a formar consciência Politica. Ajudou-me a entender que éramos um povo que nos exprimíamos pela primeira vez em Liberdade (com alguns excessos é verdade), por isso entendo que neste dia devemos demonstrar alegria, cor e celebrarmos aqueles que tornaram possível eu estar aqui hoje a dar esta entrevista sem ter medo do Lápis Azul, sem ter medo de expressar a minha opinião.
A minha geração têm, sem dúvida nenhuma, alguma dificuldade em entender o que se passava anteriormente, pois não conhecemos restrições, não conhecemos limitações em termos de expressão individual, mas temos a obrigação de contribuir para que nada de parecido volte sequer a acontecer, pois como alguém referiu, o maior erro do Homem é pensar que os erros passados não se voltam a repetir…
Em suma olho para este dia como um dia feliz, um dia em que devemos celebrar a Liberdade que hoje temos, honrar os que permitiram que hoje fosse possível festejar Abril mas, acima de tudo, garantir que as gerações que nos vão suceder possam partilhar e respeitar o 25 de Abril.

A Internet veio permitir uma maior fluidez na divulgação de informação. Há quem defenda que actualmente existe inclusive “liberdade a mais”, concordas?
Não, não concordo. A Liberdade nunca é demais e não deve ser mensurável, esse é o nosso erro quando achamos que podemos controlar a Liberdade.
É verdade que o acesso à informação é hoje muito mais fácil, pois eu lembro-me que mexi num computador pela primeira vez aos 13/14 anos e hoje uma criança, ainda no Ensino Básico, é incentivada a utilizar o mesmo, logo é um ferramenta poderosa que vai influenciar em muito o futuro de todos nós. A informação que temos à mão, ou melhor ao toque de um click, é algo que nos habituámos a devorar e sem a qual não conseguimos viver, mas que também pode ser prejudicial, pois na maioria das vezes a mesma é contraditória, às vezes com um baixo grau de fiabilidade e, por vezes, fabricada de forma a criar na sociedade correntes de opinião com objectivos que muitas vezes têm apenas que ver com a obtenção de poder.
A liberdade não é, nem nunca será, demais se conseguirmos respeitar os limites da mesma e se, acima de tudo, conhecermos o que esta palavra nos oferece, e a que nos obriga, pois não são só Direitos, existem também Deveres.
O grande problema é que a sede de poder vigente na sociedade em que vivemos leva a que a Liberdade de cada um de nós seja muitas das vezes completamente ignorada e desrespeitada.
Eu sou daqueles que entendo que a Liberdade que alguns apregoam (aquela em que não se respeita a próximo, em que se usa a mesma para atingir a todo o custo um objectivo), não é a verdadeira Liberdade, pois esta existe mas cada vez de forma mais tímida, temos medo de nos envolver, temos receio de retaliações, etc…
A liberdade de expressão, conquista também de Abril, não pode continuar a ser posta em causa, não pode voltar a ser “controlada” pelo poder político, pois ela reside em cada um de nós e retirar-nos isso é amputar uma parte de nós.

Como é que o mais jovem Presidente da Assembleia Municipal interpreta o papel deste órgão na democracia Borbense?
A Assembleia Municipal é órgão que acompanha e fiscaliza a actividade da Câmara.
Como diversas vezes ouvi da boca de Deputados na Assembleia Municipal, esta é a Casa da Democracia. Eu costumo chamar-lhe, o fórum por excelência.
Considero que aqui podemos e devemos dar o nosso contributo, a nossa opinião, tendo em vista o objectivo comum que mobiliza todos sem excepção que estão reunidos naquele órgão – O nosso Concelho.
Lamento que também aqui tenha havido por vezes excessos na liberdade de expressão que nos assiste, mas acho que quando isso acontece damos uma imagem triste e negativa da verdadeira importância que tem nas nossas vidas a existência deste órgão. Talvez tenhamos, ao longo dos anos, contribuído de forma decisiva para o afastamento da população das sessões que realizamos.
É bem verdade que o furor político que falava no início hoje não é vivido da mesma forma. É verdade que esta Assembleia conta com uma maioria absoluta muito forte, fruto da decisão dos borbenses, mas também não deixa de ser verdade que é ali que muitas vezes se decide o futuro do nosso Concelho, e não vejo a população presente e interessada no que ali se discute. Existe um completo alheamento da população destas sessões, o que me custa a entender e aceitar. Não podemos julgar o todo apenas por uma parte, e acima de tudo não nos devemos conformar. Devemos pedir contas a quem elegemos. Devemos colaborar de forma mais activa nas decisões que nos afectam diariamente, ou devemos apenas expressar a nossa opinião, mas devemos fazê-lo ali e não no café, ou no Alto da Praça (o espaço físico não o Blog) que é algo que gostamos de fazer muitas vezes sem estarmos na posse de todos os elementos.
Entendo que este órgão nos permite obter um conhecimento mais profundo dos problemas do Concelho e da forma que pensamos ter encontrado para os resolver, por isso acho que o contributo de todos sem excepção é no mínimo fundamental.

Como têm decorrido estes primeiros meses? A relação entre as três bancadas tem sido uma relação cordial?
Depois da tomada de posse, construímos uma equipa que me acompanha diariamente no trabalho do Gabinete de Apoio da Assembleia. Estamos a preparar uma proposta de Regimento que pensamos levar em breve a plenário e estruturamos tudo de forma a que a ausência física do Presidente da Assembleia não fosse sentida. Todos sabem que não resido durante a semana no Concelho, mas estou sempre presente. Lá está, uma das vantagens do desenvolvimento tecnológico em que vivemos hoje em dia.
Já referi que hoje em dia a política é vivida de forma menos intensa mas de forma tão verdadeira e correcta como no passado. Os deputados têm um conhecimento muito grande dos outros membros da Assembleia, alguns até têm laços familiares com membros de outras bancadas e, acima de tudo, querem o melhor para todo o Concelho. Por isso, não entendo que para além da discussão política que é normal existir neste órgão haja ou possa haver conflitos doutra natureza, pois nunca o permitirei.
As três bancadas têm até ao momento mantido uma relação acima de tudo institucional onde tentamos manter o equilíbrio necessário ao regular e normal funcionamento das sessões e de todo o expediente da Assembleia.
Tentarei que a maioria, e as minorias, mantenham ao longo destes quatro anos a relação correcta para que não coloque nunca em causa o regular funcionamento deste órgão.
A relação não tem que ser sempre cordial mas tem que ser a mais eficiente. Olho para o plenário como uma equipa onde cada um desempenha um papel e desde que cada um desempenhe o seu papel da melhor maneira que sabe, e desde que respeite o papel do outro, não haverá qualquer problema.

O actual presidente foi deputado durante os dois mandatos anteriores. Quais as principais diferenças entre estar na bancada e presidir à Assembleia?
Existem, evidentemente, diferenças. Logo à cabeça o nível de responsabilidade, pois encabecei uma lista constituída por uma equipa em que a maioria clara da população do nosso Concelho depositou uma enorme dose de confiança, pelo trabalho desenvolvido e pelo trabalho que desejam continue a ser desenvolvido. Represento também, enquanto Presidente da Assembleia Municipal, o Concelho a nível institucional, o que eleva o grau de responsabilidade com que desempenho as minhas funções.
Sou uma pessoa que gosta de exprimir a sua opinião, mas entendo que, enquanto Presidente da Assembleia Municipal, tenho o dever de manifestar a mesma apenas em última instância, enquanto que quando estamos na bancada esta “limitação” não é sentida, mas isto não quer dizer que não a manifeste pois irei fazê-lo quando entenda que o deva fazer.
Aprendi, nos oito anos em que estive como deputado na Assembleia, muito em particular com os meus antecessores na Presidência, o Joaquim Veiga e o António Proença. Pessoas com formas diferentes de dirigir os trabalhos mas pessoas com um enorme sentido de Democracia que sempre conseguiram manter o equilíbrio institucional no funcionamento deste órgão, e que me ensinaram que acima de tudo está o respeito pela Democracia e o respeito pelo órgão que representamos. Aproveito a oportunidade para lhes prestar o meu agradecimento público.
Este plenário tem muitas caras novas, tem também muitos jovens, e como sabemos os jovens têm o sangue um pouco mais quente e compete-me a mim manter o equilíbrio necessário entre a dinâmica e inexperiência inerente à juventude e a experiência inerente aos membros com mais anos de dedicação à causa pública.
Acho que, até ao momento, tenho conseguido manter um espírito aberto mas muito responsável das sessões já realizadas neste mandato.

Levar a Assembleia Municipal até os munícipes foi uma das ideias lançadas para este mandato. Orada já foi visitada, o objectivo foi conseguido?
Pretendemos com esta medida acicatar a consciência das pessoas, para que não entrem numa espécie de letargia Democrática após as eleições, e que durante quatro anos se afastem dos decisores políticos do Concelho e, consequentemente, dos órgãos onde as decisões são tomadas.
Achamos que levar as Sessões da Assembleia Municipal para fora do Salão Nobre, e em particular para as Freguesias, pode ter um efeito positivo na vida destas freguesias. O objectivo na Orada foi atingido apesar de não estar totalmente satisfeito. Vamos voltar com mais sessões, mas pretendo que nestas sessões possamos abrir a discussão sobre os problemas locais de cada Freguesia e para isso conto com todos os que vivem nestas Freguesias para nos fazerem chegar sugestões para a constituição de uma ordem de trabalhos que possa, para além dos pontos habituais, ser quase dedicado a cada Freguesia.
Vamos prosseguir com esta ideia e acho que as populações nos ajudarão a conseguir atingir os objectivos.

Há quem defenda que os jovens estão de costas voltadas para a política. Partilhas desta opinião?
Gostava de não partilhar mas temo que exista um fundo de verdade nesta questão. Porém, nem todos estão de costas voltadas para a política. Basta olhar para as listas nas últimas Autárquicas e facilmente verificamos que existem jovens com vontade de participar nas decisões que sem dúvida nenhuma vão ter reflexos ao longo das suas vidas.
Também existem muitos com grande capacidade que por diversas razões não querem envolver-se na política, e aqui a culpa é partilhada pelos que hoje são políticos, por tudo o ruído à volta desta classe que já foi idolatrada e é hoje consecutivamente posta em causa. Não digo que não seja feito com razão e com motivos válidos, mas penso que procuramos todos os dias o “bode expiatório” e normalmente existem sempre consequências graves quando actuamos assim.
É também partilhada pelos Jovens que se limitam a encolher os ombros e a não partir para a linha da frente e a tomar as rédeas dos assuntos.
Gosto de estar presente junto dos decisores pois só assim poderei dar a minha opinião e posso definitivamente contribuir para continuar a melhorar o nosso dia a dia.
Acho que os jovens estão a acordar, em cada dia que passa, para esta nova realidade em que o País se encontra mergulhado, e não deixa de ser irónico que a nossa geração, que injustamente foi apelidada de “Geração Rasca”, tenha que arregaçar as mangas e meter a mão à obra para conseguir corrigir os erros que uma classe política elitista veio a acumular ao longo dos últimos 30 anos, mas tenho a certeza que conseguiremos dar uma lição de humildade e trabalho, e conseguiremos ver este País mais equilibrado a nível económico mas acima de tudo mais solidário e mais justo socialmente. Só compete aos nossos jovens acreditar que somos um povo capaz de esta árdua tarefa, porque realmente somos!

Concluir os estudos, leva a que os jovens abandonem o concelho, muitos dos quais não chegam a voltar. Na opinião de quem passou por esse processo, o que se pode fazer para, não o invertendo, minimizar esta perda?
Eu acredito que muitos dos que partem voltam, e temos exemplos a esse nível aqui no nosso concelho. Também acho que ainda não estão criadas as condições para que todos possam voltar.
Neste momento é mais fácil, para quem exerce profissões ligadas aos serviços, voltar do que para aqueles que exercem profissões a nível de Economia, Gestão, ou Direito. O nosso concelho não apresenta ainda condições para que estes jovens se possam fixar, e sinceramente acho muito complicado que possa ser uma realidade a curto prazo, mas temos que continuar a trabalhar diariamente para atingirmos este ponto.
Não havendo grandes alternativas temos que garantir que mantemos os jovens ligados ao concelho, seja através do seu envolvimento nas instituições que existem no nosso concelho e pedir-lhes ajuda nesta caminhada que ainda vai no início, que é tornar o nosso concelho muito mais desenvolvido, capaz de absorver a sua força de trabalho e dar-lhe condições para criarem uma “vida”. A sua experiência profissional, e de vida, será fundamental para conseguirmos atingir os nossos objectivos. Se fosse necessário criar uma frase para motivar os jovens, acho que teríamos que dizer – São fundamentais no nosso Desenvolvimento!

Acompanhaste de perto o processo de elevação de Borba à categoria de cidade. Quais as vantagens mais significativas?
Acho que é o culminar de todo um processo moroso, que se conseguiu manter quase em segredo durante muito tempo e que é também um prémio para o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por este executivo ou se quiserem por esta equipa da qual sinto orgulho em pertencer.
Muito se têm dito sobre a elevação de Borba a cidade, e muita coisa errada. Não vamos pagar mais impostos, as coisas não ficam mais caras, etc…
A elevação a cidade não é um ponto de chegada mas sim um ponto de partida, pois a partir de agora temos que iniciar o processo de reivindicação de todos os equipamentos que fazem parte integrante de uma cidade e que ainda não temos, e é aqui que só vejo vantagens. Educação, saúde, segurança, mobilidade, serviços, são reivindicações que a partir de agora temos legitimidade para fazer, ou melhor, temos direito a que, as que existam, sejam melhoradas e as que não existem sejam criadas. Vai ser mais um processo complicado e longo, mas temos condições criadas para que possam vir a ser concretizadas, e uma realidade, muitas das coisas que em 2001 não passavam de um sonho distante. Em suma, a elevação de Borba a cidade para além do marco histórico que se escreveu é um ponto de partida rumo a um futuro melhor para todos nós.

E dentro de dez anos, como estará o nosso concelho?
Estará com certeza ainda melhor do que é hoje. Continuamos todos a trabalhar para que assim seja.
Temos problemas estruturais, temos falta de indústria, falta de mão-de-obra qualificada, uma população a envelhecer e a necessitar de mais e melhores cuidados de saúde, e temos que criar as condições para que estes problemas que hoje existem possam deixar de o ser, mas também temos muitas coisas boas. Uma localização estratégica, no eixo Lisboa – Madrid, recursos naturais, empresários empreendedores, dos melhores vinhos portugueses, e acima de tudo vontade de ter mais e melhor para cada munícipe do nosso concelho.
Podemos estar daqui a 10 anos onde sonharmos. Relembro que em 2001 esta equipa que ainda governa os nossos destinos foi acusada de ser sonhadora devido ao programa que apresentava, e vejam até onde o sonho nos levou, acho que devemos continuar a sonhar, pois o sonho comanda vida, não é?
Continuo a acreditar em Borba, nas suas potencialidades enquanto comunidade, enquanto concelho com futuro e acima de tudo recuso-me a baixar os braços e desistir de acreditar que é possível Mais e Melhor!